domingo, 27 de janeiro de 2013

Laerte Patrocínio Orpinelli, o "Monstro de Rio Claro"



O comportamento estranho de Laerte, sétimo filho de uma família de oito irmãos, todos nascidos em Araras, começou cedo, com quase a mesma idade de suas vítimas. Ele cursava o terceiro ano primário e chamou a atenção de uma professora pelo estranho comportamento. Mal falava, brincava sozinho e tinha péssimo rendimento escolar. Não conseguia passar de ano e abandonou os estudos. Nessa mesma época, deu sinais de que no futuro iria pôr o pé na estrada. Ficou uma semana fora de casa, sem dar satisfação aos pais. Para chamar a atenção da família, batia latas no quintal. Essas atitudes irritavam a mãe, Eliza, que, numa tentativa desesperada de contê-lo, o amarrava com pedaços de trapos na beirada da cama ou ao pé da mesa. 
Aos 16 anos, inaugurou uma série de internações na clínica psiquiátrica Sayão. Certa vez ficou cinco anos direto em tratamento. Às vezes resolvia dar um tempo por conta própria e fugia. Segundo o diretor da Sayão, José Carlos Naitz-ke, a família o internava alegando que ele tinha problemas de alcoolismo. "Não digo que Laerte tem uma doença mental. Seu diagnóstico clínico é segredo médico", afirma. Segundo um dos sobrinhos que preferiu não se identificar, três dos quatro irmãos são aposentados por alcoolismo. O comportamento arredio e estranho de Laerte foi se poten-cializando pela crônica desunião da família. Depois que se casaram, os irmãos nunca passaram um Natal juntos.
Infantil

"De vez em quando ele fazia coisas sem nexo como pedir para a minha mãe que escrevesse cinco cartas para uma mesma pessoa", conta o sobrinho. Segundo o rapaz, o tio tinha um comportamento infantil. "Uma vez o vi em casa com um brinquedinho. Pedi para ver e ele disse: Não. É meu!" Embora com dificuldades de se relacio-nar com as pessoas, Laerte teve uma namorada. Sidney Aparecida Martins, 62 anos, conheceu o andarilho em 1983 e chegou a viver com ele por dois anos e meio. Sidney conta que o maníaco era agressivo. Eles dormiam em quartos separados e moravam na casa dela, no bairro de Bela Vista, próximo ao Horto Florestal, onde foram encontradas duas ossadas de crianças mortas por Laerte. "Ele ficava agitado. Saía de manhã e só voltava à noite. Nunca vi dinheiro com ele. Sabia que era alcoólatra, mas desconhecia o fato de ele ter problemas psiquiátricos", reagiu Sidney sem saber explicar o comportamento cruel e monstruoso do companheiro.
Até o final da década de 1990, o desaparecimento e assassinato de vários meninos aterrorizou os habitantes de Rio Claro, no interior de São Paulo. A investigação estava em um beco sem saída, e as medidas de segurança implementadas pela polícia local não pareciam ser suficientes. 

O modus operandi do assassino era seduzir suas jovens vítimas com caramelos e doces. Ele então atraía os garotos para lugares remotos e descampados, onde os violentava e assassinava. Se não opunham resistência, ele os asfixiava com as próprias mãos. Caso contrário, eram espancados até a morte. A indicação de uma nova delegada para o caso, a Dra. Sueli Isle, encerrou a carreira de crimes do “Monstro de Rio Claro”. Em juízo, o assassino confessou ter violentado e matado brutalmente mais de 100 meninos. 
 A aparente fragilidade e a simpatia quase subserviente conquistavam as pessoas que, penalizadas, decidiam ajudá-lo. "Ele aparecia de vez em quando no bar. Eu o achava um coitado e com pena dele lhe dava uns sanduíches", conta o funcionário da mercearia Dom Bosco, em Piracicaba, Marcos Brito da Silva. Atitudes como essa eram recorrentes na interminável rota que parecia seguir. Hoje, Laerte desperta ódio e perplexidade. Friamente, confessou 11 assassinatos de crianças, entre quatro e dez anos. Duas outras mortes foram confessadas informalmente à polícia, até quinta-feira 27. O "Monstro de Rio Claro", como passou a ser conhecido, gostava de registrar num pequeno caderno o dia e a cidade por onde passava. A partir das anotações encontradas, a polícia elaborou um banco de dados que registra a rota macabra de 26 cidades e 96 crianças desaparecidas. O andarilho da morte faz questão de dizer que tem profissão: é engraxador de portas de estabelecimentos comerciais. Laerte foi preso no município de Leme dia 13, mas a polícia já estava em seu encalço há meses. Com o antigo argumento de dar balinhas e doces às crianças ele conquistava a atenção delas. Abusava sexualmente, esmurrava e matava. Jéssica Alves Martins, nove anos, cruzou a rota da morte de Laerte no dia 21 de novembro do ano passado. Há registro da passagem de Laerte pelo albergue do município no dia 20. Dois dias depois, o corpo dela foi encontrado. Em datas e locais diferentes, tiveram o mesmo fim trágico e violento Daniela Regina de Oliveira Jorge, cinco anos; Alyson Maurício Nicolau Cristo, seis anos; José Fernando de Oliveira, nove anos; Osmarina Pereira Barbosa, dez anos; Aline dos Santos Siqueira, oito anos; e Anderson Jonas da Silva, seis anos.

Entrevista a Isto é independente:

Laerte conversou com ISTOÉ duas vezes. Na primeira, mostrou seu lado pouco tolerante, irritadiço e encerrou a entrevista quase aos berros. Na segunda, parecia outra pessoa. Mostrou-se risonho, gentil. Chegou a pedir uma camisa nova e alguns "salgadinhos".
ISTOÉ - Por que matar crianças?Laerte - Eu gosto de ver o corpinho delas. Gosto da beleza que elas têm.
ISTOÉ - O que te atrai nelas?Laerte - Gosto de um jeito diferente.
ISTOÉ - Sexual?Laerte - É.
ISTOÉ - Por que decide seduzi-las?Laerte - Quando bebo incorporo o Satã, fico nervoso e sinto esse desejo. Sinto prazer em vê-las aterrorizadas.
ISTOÉ - E como você as escolhe?Laerte - É depois de beber. Começa a sessão de violência. Eu vejo crianças e me dá vontade de fazer desordens.
ISTOÉ - Há quanto tempo você começou a matar?
Laerte - Há uns cinco ou seis anos.
ISTOÉ - E você matou adulto também? Mulheres?
Laerte - (Ri) Não. Nunca. Só crianças.
ISTOÉ - Quantas crianças você calcula ter matado?
Laerte - Umas 15 no total.
ISTOÉ - Você não achava que um dia poderia ser pego?
Laerte - Sabia que um dia ou outro a polícia ia me pegar, mas não me preocupava.
ISTOÉ - Você está arrependido?
Laerte - Estou. Quero me tratar.

Julgamento

Aproximadamente 80 pessoas assistem no salão do Júri do Forum de Rio Claro nesta quinta-feira, 16, o inicio do julgamento do andarilho Laerte Patrocínio Orpinelli, 56 anos, acusado de matar os primos José Fernando de Oliveira, de 9 anos, e Osmarina Barbosa, de 10, mortos em 1990. Preso em 2000, Orpinelli ficou conhecido na época como o "monstro de Rio Claro". Acusado pela morte de seis criançasem Rio Claro e de outras três na região, ele cumpre pena em Serra Azul. 
Orpinelli foi condenado a 18 anos e 8 meses pela morte de Edison da Silva Carvalho de 11 anos, em Monte Alto; a 16 anos pela morte de Crislaine Barbosa, de 4 anos, em 1999, em Pirassununga; e a 27 anos e 4 meses pela morte de Jéssica Alves Martins, de 9 anos, em 1999, em Franca.
O réu chegou ao fórum, que fica no centro de Rio Claro, às 9 horas desta quinta. Cabisbaixo, foi levado à presença de seu advogado, Carlos Benedito Pereira da Silva, que afirmou à imprensa que apresentará provas de que seu cliente foi coagido pela polícia a confessar os crimes. "As confissões foram moldadas conforme a polícia queria", afirmou. A defesa não apresentará testemunhas.
Além dos casos que serão julgados nesta quinta, Orpinelli já foi impronunciado (isto é, não foi levado a júri popular) em dois processos e outros dois processos foram arquivados. O promotor José Maria Gomes apresentará uma testemunha. A mãe de José Fernando, Maria Lucia de Oliveira, de 50 anos, disse que aguarda pela justiça. "Esperei muito por esse dia", desabafou.
Histórico
A defesa de Orpinelli informou que o exame de sanidade mental do cliente não apontou retardo. "Ele só é uma pessoa sem cultura, pobre, que teve problemas de criação", disse o advogado. Uma dos sete irmãos de Orpinelli chegou a dizer, em depoimento, que o irmão tinha momentos de revolta quando criança e a mãe chegava a amarrá-lo quando estava mais agressivo. O advogado contou que, após a primeira internação do cliente, aos 15 anos, em uma clínica psiquiátrica em Araras, outras dez passagens foram registradas até os 41 anos. "A informação sempre foi a de que ele era internado por dependência de álcool", disse Silva.
Orpinelli nasceu em Araras, mas passou por diversos cidades da região e conta ter trabalhado como engraxate. Entre documentos encontrados pela polícia, quando da prisão do andarilho, havia um caderno no qual ele costumava anotar o nome das cidades pelas quais passava - 26, no total. Um cruzamento de dados feito pela polícia apontava que nesses municípios havia o registro de desaparecimento de, pelo menos, 90 crianças. 
Em 2000, quando foi preso, Orpinelli disse à imprensa que calculava ter matado 15 crianças e estava arrependido. Para um jornal local, no entanto, ele disse que era acusado de crimes que não havia cometido. "Estão querendo me fazer confessar crimes que não cometi", afirmou, à época. Orpinelli fez aniversário na sexta-feira passada, sem comemoração. "Está monossilábico, aborrecido", observou o advogado.



Morte
Na tarde de terça-feira, dia15 de janeiro, de 2013,  a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) emitiu um comunicado sobre a morte de Laerte Patrocínio Orpinelli, o "Monstro de Rio Claro". O texto dizia o seguinte: "Informamos que Laerte Patrocínio Orpinelli deu entrada na Penitenciária de Iaras em 07 de dezembro de 2012 já apresentando diabetes (insulino dependente), hipertensão arterial e úlceras venosas infectadas em tornozelos. Ele foi imediatamente assistido pela equipe médica e de enfermagem, fazendo uso uso contínuo da medicação prescrita. Em 31 de dezembro do mesmo ano, Laerte foi encaminhado ao Pronto Socorro da cidade de Avaré para a realização de debridamento das ulcerações (procedimento médico de remoção do tecido desvitalizado presente em ferida). Retornou na mesma data e permaneceu no setor de Enfermaria para ser melhor assistido e continuar a ser medicado, bem como serem feitos os curativos necessários. No dia 3 de janeiro de 2013, por volta das 5h30 da manhã, ao fazer a contagem de praxe do referido setor, o servidor responsável não obteve resposta do sentenciado, que aparentemente não apresentava sinais vitais e que não havia solicitado atendimento. A direção da Penitenciária de Iaras aguarda o recebimento da cópia do laudo necroscópico para juntá-lo ao processo de Apuração Preliminar em curso. A Corregedoria Administrativa do Sistema Penitenciária está apurando as circunstâncias do fato. O Meritíssimo Juiz da Vara de Execuções Criminais responsável, assim como os familiares do reeducando, também foram informados do ocorrido".
Imagens

Livro
Repórter policial lança livro sobre o assassino serial LAERTE ORPINELLI


Carlota passou anos seguindo a trilha do assassino e reconstituiu os crimes em um livro denso e assustador, repleto de detalhes chocantes

O escritor e jornalista, o ituano Reginaldo Carlota, 36, perdeu há muito tempo a conta de quantas pessoas mortas das mais piores formas, já fotografou em seus anos de repórter policial. Porém, nenhum dos casos em que trabalhou até hoje, conseguiu abalá-lo tanto, quanto os brutais assassinatos de duas garotinhas de 9 e 10 anos, ocorridos em Itu, no ano de 1984, quando o autor ainda era uma criança, da mesma idade das vítimas.
Foi a obsessão por esses dois casos, nunca esclarecidos pela polícia, que levaram o autor a escrever o livro “O Matador de Crianças”, que está lançando agora.
Fundamentado em rigorosa pesquisa e numa investigação obsessiva, conduzida pelo próprio repórter, o livro é um documentário chocante, brutal e aterrador, sobre o serial killer Laerte Patrocínio Orpinelli e seus crimes macabros.
Entre as décadas de 70 e 90, Orpinelli, que vivia como andarilho, perambulou por dezenas de cidades do interior de São Paulo e em sua trajetória, estuprou e matou com requintes de crueldade, um número ainda não contabilizado de crianças.
“Quando bebo incorporo Satã e quando estou tomado por ele, não posso ver uma criança que persigo até matar”, revelou o assassino com frieza logo após sua prisão, em janeiro de 2000, na cidade de Rio Claro.
Segundo Carlota, Orpinelli é o responsável pelos dois assassinatos de crianças ocorridos em Itu nos anos 80. Os crimes nunca foram solucionados pela polícia local, de acordo com o repórter. Em seu livro, o autor reconstitui em detalhes os dois assassinatos e dezenas de outros crimes semelhantes, praticado por Orpinelli.
Nascido e criado em Araras, o maníaco foi condenado por assassinatos de crianças ocorridos em Rio Claro, Franca, Monte Alto e Pirassununga, e ainda é o principal suspeito de desaparecimentos e mortes de crianças em São Carlos, Bauru, Caçapava, Jacareí, Ourinhos e várias outras cidades do interior paulista. 
Durante vários anos, Carlota seguiu de maneira obsessiva a trilha de sangue deixada pelo andarilho sinistro e foi refazendo toda a rota de seus crimes.
A obsessão do autor pelo criminoso era tanta que ele perambulou durante meses por diversas cidades do interior de São Paulo, pegando carona nas mesmas rodovias que o assassino pegava, atrás de informações sobre ele. O autor também ia pessoalmente até os locais onde o maníaco havia matado suas vítimas, frequentava os mesmos bares que ele havia frequentado, conversava com as mesmas pessoas que ele havia conversado, ouviu depoimentos de familiares e conhecidos das vítimas e pesquisou centenas de páginas de jornais e inquéritos policiais sobre os assassinatos. Carlota também entrevistou três delegados envolvidos nos casos e chegou ao extremo de pernoitar durante semanas nos mesmos albergues noturnos que o andarilho dormia, tudo para saber o máximo que podia sobre o serial killer e escrever seu livro reportagem.
“Eu tive que mergulhar no mundo do Orpinelli, entrar na cabeça dele, só assim consegui traçar o seu perfil psicológico e compreender sua lógica perversa e doentia”, revelou o autor.
O Livro O Matador de Crianças custa R$ 29,90 e está sendo vendido para todo o Brasil pelo próprio autor, através de seu blog www.carlotacriminal.blogspot.com.

Obra é destaque no Brasil e no Exterior
Lançado de forma independente pelo próprio autor em setembro do ano passado, o livro teve a primeira tiragem esgotada em menos de uma semana. A obra também já foi destaque em mais de 40 jornais do interior brasileiro, teve manchetes em dezenas de sites e algumas revistas. Graças ao lançamento do livro, Carlota também foi convidado para participar de um programa policial sobre assassinos seriais, produzido por uma rede de TV internacional.


Videos





Fonte: Isto é independente http://www.istoe.com.br/reportagens/32101_ANDARILHO+DA+MORTE+
Fonte:Estadão.com.brhttp://www.estadao.com.br/noticias/cidades,monstro-de-rio-claro-vai-a-juri-pela-morte-de-duas-criancas,260924,0.htm




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem vindo e obrigada por comentar!